Filhos e filhas,
No dia 14 de setembro, a Igreja celebrou a Festa da Exaltação da Santa Cruz. Não exaltamos a cruz como instrumento de morte, e sim como redenção. Por suas chagas, somos curados, já nos diz São Pedro (cf. 1Pd).
E eu quero aproveitar essas festividades, dia 15 de setembro, celebramos Nossa Senhora das Dores, para refletir sobre a idolatria, um tema que causa muita confusão entre os católicos. E para começar já afirmo, nós católicos, NÃO somos idólatras.
Em alguns dicionários da língua portuguesa encontramos o mesmo significado para as palavras “adorar” e “venerar”, porém, não existe sinônimo que seja absolutamente equivalente e nenhum dicionário trata de hermenêutica e exegese.
E, ainda que existam palavras distintas com significados iguais, uma delas tem uma conotação, um outro aspecto que leva a uma ação diferente. Se duas palavras são absolutamente idênticas, e tem o mesmo sentido, a própria linguagem acaba eliminando uma delas. Assim, idolatrar, adorar e venerar não possuem o mesmo significado, cada uma dessas palavras tem sentidos diferentes.
Para tentar elucidar um pouco sobre a intercessão dos santos, exponho aqui alguns aspectos mais polêmicos sobre esse assunto. Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. “Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo” (1Tm 2,5).
Quanto a isto não resta à menor dúvida. No Antigo Testamento, a mediação entre Deus e os homens se dava através da prática da Lei. Já no Novo Testamento é Cristo que nos reconcilia com Deus, através de seu sacrifício na cruz: “Desse modo ele é o mediador da nova aliança. Pela sua morte expiou os pecados cometidos no decorrer da primeira aliança, para que os eleitos recebam a herança eterna que lhes foi prometida” (Hb 9, 14-15).
E, ainda: “Eis porque Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus. E não entrou para se oferecer muitas vezes a si mesmo, como o pontífice que entrava todos os anos no santuário para oferecer sangue alheio. Do contrário, lhe seria necessário padecer muitas vezes desde o princípio do mundo; quando é certo que apareceu uma só vez ao final dos tempos para destruição do pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9, 24-26).
Porém, a intercessão dos santos se dá em outro caráter, que em nada fere a glória devida unicamente a Jesus Cristo, Mediador da Redenção. E, não significa que não possamos ter junto a Cristo, outros intercessores. Se a intercessão não fosse de outra natureza, São Paulo não nos teria pedido para que sejamos intercessores junto a Deus por todas as pessoas da terra: “Acima de tudo, recomendo que se façam súplicas, pedidos e intercessões, ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e honestidade” (1Tm 2,1-2).
Nossa Senhora e os santos são nossos intercessores junto a Jesus Cristo, o mediador. Todas as graças vêm de Deus e Ele nos concede pelos méritos de Jesus Cristo. Nenhum santo, nem Nossa Senhora, por si só, têm a força para concedê-las. Na tradição teológica, existe o que chamamos de Mysterium Lunae (Mistério da Lua), segundo o qual Maria e todos os santos brilham como a lua: não resplandecem por luz própria, mas refletem aquela que emana de Cristo.
Pedimos a intercessão dos santos e de Nossa Senhora, justamente porque agem em nome de Jesus, como outrora os apóstolos o fizeram. Por isso, concluímos todas as fórmulas de orações dirigidas aos santos, pedindo que Deus nos conceda por Cristo Nosso Senhor.
Espero ter elucidado um pouco.
Deus abençoe,
Padre Reginaldo Manzotti